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Posted by : Unknown junho 29, 2013

Ultimamente a mídia tem dado mais espaço aos problemas LGBT. O que erroneamente vem sendo confundido com "favorecimento" ou "busca de privilégios. As pessoas falam sobre um tempo em que transfobia, homofobia e racismo reinavam, com pouca ou nenhuma oposição, como boa época (para quem?).

Reaças falam sobre opressão e ditadura gay como se de fato fossem os heterossexuais quem foram internados para mudar de sexualidade, como se fossem agredidos nas ruas por gays por serem hétero, como se homossexuais os impedissem de ter família. Tal proporção não existe, e o inverso é realidade. 

Até mesmo palavrões são a medida exata do preconceito, quando se quer xingar alguém, quantas vezes não chamamos de "viado, bicha" e o caralho a quatro? Eu mesma já me envolvi com mulheres e uso esse tipo de palavrão livremente, porque sei que ofende. Nunca vi ninguém xingar alguém de hétero.

Tudo o que os homossexuais querem é viver suas vidas normalmente. Liberdade de expressão jamais deveria ser usada como tentativa desonesta de barrar direitos e agredir a outros.

Outro erro comum é jogar homofobia e transfobia no mesmo saco. Talvez seja difícil pra entender, caso você seja um deficiente mental. O fato é que duvido que se colocarem uma trans putamente gostosa na tua frente (e você , preconceituoso, não saiba sobre os detalhes adicionais), não ficaria normalmente interessado. 

O meu ponto é justamente esse. Um homossexual é um homem (ou uma mulher) que tem interesse sexual/afetivo pelo mesmo sexo. Enquanto transgêneros tem uma identidade e, muito provavelmente, aparência não relacionada com suas genitais de origem. Por exemplo, eu tenho um pênis mas vivo como mulher, e não necessariamente gosto de homem. Transexuais e travestis tem as mais diversas sexualidades, podendo ser ou hétero, ou gay, ou bi, ou pan, etc. Como qualquer outra pessoa.

Enquanto homofobia é relacionada aos gays, transfobia enquadra os crimes de ódio relacionados a transexuais, mas nem só de assassinato que se propaga a transfobia. Segue abaixo "A morte e a morte de uma travesti" , que fala sobre o assassinato da trans Nicole Borges, de como isso foi veiculado pela mídia e um paralelo desses dois fatores com o inconsciente coletivo. O que segue é um resumo meu sobre o que foi originalmente escrito pela blogueira Daniela Andrade:



Transfobia também se dá quando lemos uma notícia terrível em que o jornalista está o tempo todo tratando uma mulher trans* como um homem. É importante notar que, ainda que o autor do texto diga que não foi por preconceito, que não foi por querer, ou por que está reproduzindo falas, tudo que ele consegue em relação às pessoas trans* é contribuir ainda mais um pouco para que o restante da sociedade continue acomodada na sua visão binária e cisdependente. E esse acomodamento mata mais uma vez a vítima, e as vítimas que virão – já que nisso está a força do argumento transfóbico do crime: “ela/ele era um engano”. Já que é na perpetuação e consumação de que o corpo da pessoa trans* é inadvertidamente o corpo errado e o corpo a ser evitado pelos “homens e mulheres de bem” que se alimenta a transfobia.

Palavras e sentenças são armas sociais, é por meio da palavra que civilizações foram conquistadas: quantos povos impuseram sua língua e sua visão de mundo aos colonizados? Se eu destruo o seu idioma, a sua língua, eu destruo parte da sua cultura, eu destruo parte de você – consideráveis partes. É por meio da palavra que dentro das sociedades construímos hierarquias e dividimos os “doutores e letrados”, portanto respeitados, de um lado e os que não conseguem dizer e escrever formalmente de outro, portanto, descreditados. É esse, ainda hoje em dia, o pensamento de uma elite rancorosa que se enche de empáfia diante do que chamam de “o correto” – e quando não, recorrem à ilustre Academia Brasileira de Letras, guardiã do idioma. Eu poderia aqui tergiversar sobre o que é esse conluio de senhores e senhoras que se reúnem para tomar chá, mas creio que um argumento apenas bastará: Ronaldinho Gaúcho foi condecorado imortal dentro desse célebre reduto de… eruditos, há pouco tempo.

[...]
Seria Nicole, por ser travesti e pobre menos merecedora da vida que todos os demais? Menos merecedora inclusive do respeito pela identidade que exerce, como mulher? Seria Nicole menos humana? Aliás, seria Nicole, Nicole? Outros sites dão outros nomes para a vítima. Nem ao menos se dão ao trabalho, muitos dos que escrevem, em checar se o nome social é de fato o correto – já que despreocupados estão em respeitar inclusive isso.

É essa a pergunta que fica, diante da monstruosidade de quem mata, da negligência de quem noticia e da violência de tantas pessoas que nos comentários dessas notícias resolvem apelar para um tal de moral e bons costumes – já que a vítima é travesti. Moral e bons costumes por dizerem que elas [as pessoas trans*] não se dão ao respeito, mas… quem respeita as pessoas trans* dentro da sociedade? As pessoas travestis (trans*) devem sempre respeitar a todos, mas quantos são os que as respeitarão ao longo da vida? Raros! 

Inclusive gente douta e estudada não pensa duas vezes antes de demonstrar todo o desconforto diante de tal figura, que a sociedade, com o passar do tempo, tratou de associar ao crime; uma vez que nunca quis – salvaguardando raras exceções – explicar e demonstrar o dia-a-dia de alguém travesti (trans*) segundo uma visão humanista, visão que evidencie sentimentos, frustrações e agressões diárias sofridas por essas pessoas em todos os espaços sociais: da escola à busca por emprego formal. E por que também se recusou a noticiar com tanto afinco como o faz nos programas policiais, as conquistas e a notoriedade que tantas pessoas travestis (trans*) alcançam socialmente; seja por estar ajudando aos demais em trabalhos sociais, seja por estar destruindo os altos muros do preconceito e se jogando para dentro dos espaços que a essas pessoas foram vedados simplesmente por exercerem seus gêneros de forma diferente do esperado pelos demais.

[...]

Nicole foi morta porque as piadas e as conversas giram em torno do seguinte, ao se referir às mulheres trans*: “mas mulher ter pênis não existe”, “mas não pode ser mulher”, “mas não é mulher”. Ou seja, Nicole não pode ser vista como homem – já que ultrapassou as fronteiras que a sociedade erigiu para o que considera adequado a um homem [...] e, também não pode ser vista como mulher [...] e, com isso, vamos afastando a humanidade de Nicole dentro de uma sociedade que normatizou apenas duas possibilidades: homem ou mulher – agora, já não mais humana, podemos tratá-la da forma como bem quisermos e dizer que respeito é algo que só nós é que merecemos; agora, já não mais humana, podemos tratar Nicole de qualquer jeito e podemos não mais nos importar para a notícia, para a forma como é veiculada e para todos os possíveis [e certamente prováveis] comentários que desqualificarão a vítima. 

Afinal de contas, Nicole era travesti, logo, está tudo explicado: paremos de nos debruçar sobre o crime. Estávamos falando de um crime?

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  1. Muito boa essa reflexão sua e da blogueira cujo texto você postou. Um ponto que ela esclareceu bem e que eu nunca havia pensado nesse sentido é que a sociedade não enxerga o travesti (transexual) como homem e nem como mulher e talvez nem como pessoa. É por isso que vemos tantas atrocidades, tanto preconceito que é socialmente aceito e que mata aos poucos, todos os dias e não é propriamente assassinato.

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  2. Este comentário foi removido pelo autor.

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  3. Caramba. Que tenso isso.

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